quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

"Pela dignidade da educação"

             Hoje quando me deparo com o fim das férias escolares, penso no real sentido de ser o recesso de maior tempo entre as profissões. Aos estudantes, 67 dias de descanso. Professores, um pouco menos, pois lhes cabem a organização do planejamento anual, chamadas, objetivos, etc.
             Passado um verão, energias totalmente renovadas, me pergunto o que cada professor deve ter feito neste tempo para se aperfeiçoar no ensino. É preciso perceber a diferença entre se atualizar e se aperfeiçoar o que faz, sim, porque atualizações ocorrem cotidianamente, mas se especializar naquilo que já se consideram bons. Quantos professores você acredita que participaram de um debate de 2h que seja durante estas férias?
             Tudo bem, é a opção de cada um. Mas e como ficam aqueles que querem? Aqui no RS só houve uma oportunidade, e foi produzida por estudantes em Pelotas, acredita?
             O governo não se preocupa com qualidade, nunca se preocuparam. Aperfeiçoamento não significa apenas para professores. Funcionários também, ou você acha que um monitor está preparado para lidar com uma briga de mão armada? O próprio setor de limpeza que poderia se aperfeiçoar em produtos contra as pichações. E a merenda então, ainda escrevo somente sobre ela.
            Quem frequenta Porto Alegre, sabe da grande produção agrícola vinda das famílias, você observa isto no mercado público e aos sábados no brique da redenção, mas o governo ainda permite que as escolas sirvam merenda industrializada adquiridas de grandes empresas e hipermercados. É como costumo falar as merendeiras que conheci: “Tu nem cozinha mais, agora só serve.”
            É bastante compreensível que UMA merendeira APENAS por escola não consiga levantar todos os dias uma panela com 10 kg de carreteiro, o que não dá para compreender, é porque políticos recebem R$ 25 diários para refeição, enquanto profissionais da educação recebem apenas R$ 6. Talvez seja porque o professor não tem mesmo tempo para comer entre o caminho de uma escola para outra.
            O descaso com a educação vem causando desgaste geral. É muito comum um professor ser posto a trabalhar em três escolas, o que de fato já se torna cansativo, o problema é que este recebe vale transporte referente à no máximo três viagens no coletivo. Pense um pouco... Não está faltando um passe aí? Isto se não forem precisos mais ônibus, o que também é muito comum.
            Escuto muito falarem por aí que o serviço público é uma porcaria e sei que tem fundamento, mas cabe a nós cobrarmos uns dos outros o aperfeiçoamento, a melhora, qualidade na lida com os direitos dos seres humanos; as coisas que são construídas juntas servem para todos.
            O governo novo mantém o discurso do velho “o problema está na previdência”. Concordo, mas visto por outro lado: muitos profissionais já passaram do momento de serem aposentados.
            Respeito muito o conhecimento dos mais velhos, acredito que esta troca de experiências também seja uma forma de aperfeiçoamento. Mas muitos setores precisam ser revistos, como o departamento responsável pelas cadeiras das salas de aula. Que isso? Será que a secretaria da saúde não poderia intervir?! É como outro dia ouvi numa conversa: “as repartições públicas cheias de super cadeiras reclináveis e os alunos naquelas cadeirinhas desconfortáveis.” As estatísticas deveriam revelar o índice de acidentes com os parafusos que vão se soltando..
            Tá aí o motivo do tamanho do recesso escolar: as condições desumanas da educação. Pergunte ao mais exemplar dos alunos se este consegue se concentrar em uma mini sala com mais trinta e poucas pessoas, sem cortinas, muito menos ventiladores, enquanto lá fora fazem 30° C. Imagine então dentro com o teto tão baixo... Já não dá mais para as provas individuais devido à superlotação.
             Insisto, será que outro órgão de fiscalização não poderia intervir?
            Estão todos acomodados. Governos, secretários, direções e sindicatos, enquanto os alunos continuam tendo ensino religioso. Na era da revolução tecnológica, a informática está longe de entrar no currículo. Estao perdendo cada vez mais os profissionais melhores qualificados para a rede particular de ensino.
            Precisamos construir uma geração consciente, que saiba calcular em megas e gigas, que saiba negociar os juros, que através da distância e da velocidade, saiba quanto tempo vai levar para chegar ao trabalho. Nossos alunos não têm tempo para musicais da Xuxa, necessitam é de alguém que lhes ensine que por nada neste mundo deve entregar um colega ou prejudicar o parente mais distante para tirar vantagens.
             Bom... retorno com saudades das figurinhas que contudo, sao os mais prejudicados e com a certeza de que entre uma festa e outra, meu aperfeiçoamento eu fiz, para que os alunos deste ano tenham muitas novidades.
Bom ano de luta letivo.

2 comentários:

  1. Guria...teu desabafo e grito são demais!!!!! Isso deveria ser um artigo para ZH é sério...muito consistente!
    Bom ano letivo e luta!

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  2. Valeu Cássia! Agora é esperar que um dia a tão poderosa ZH deixe de manipular pensamentos e apenas publique a realidade,pra que o povo entenda porque professor faz greve.

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